Rafael Quintas, o relógio suíço do Benfica que é o orgulho do avô

Rafael Quintas, capitão do Benfica e da Seleção Nacional sub-17, foi eleito o melhor jogador do Europeu, conquistado no domingo por Portugal ao bater a França, por 3-0, na final. É visto por todos, no clube e na Seleção, como um exemplo, um líder nato que sabe sempre o que fazer.
A BOLA foi procurar conhecer melhor este jovem de 17 anos, feitos a 8 de março, que começou miúdo a jogar futebol, nas escolas do Benfica, e que aos 14 anos passou a treinar, e a jogar, no Seixal, fazendo diariamente o trajeto de casa até ao centro de treinos onde crescem os que com o tempo se tornam os melhores da formação das águias.
«É um líder silencioso, pelo exemplo, pelo trabalho no campo, e todos os que estão com o Quintas reconhecem-lhe mérito. Não é muito de falar e de se mostrar e não coloca muitas coisas nas redes sociais. É tímido, mesmo no grupo. Não é o brincalhão de serviço», descreve a A BOLA João Milho, treinador que orientou o agora campeão da Europa de sub-17 nos sub-14 do Benfica, prosseguindo: «A personalidade dele baseia-se no que conseguiu pelo trabalho. Estes miúdos de trabalho são cada vez mais importantes no futebol. O Quintas tem talento, não é dos mais talentosos, mas trabalha de forma incrível e isso é fantástico porque os que são assim querem mais do futebol do que os outros.»
João Milho acompanha há anos o percurso de Rafael Quintas e de todos os que pelo Benfica chegaram aos sub-17. Mas também conheceu muitos das gerações anteriores, como a de João Neves ou a de Renato Sanches. No meio de tantos craques que já viu tornarem-se jogadores de referência, o técnico tem dificuldades em encontrar um que o faça lembrar o agora campeão: «Talvez tenha uma presença parecida com o Busquets, com menos dois palmos de altura do que ele tinha. O Quintas não é esse tipo mais forte fisicamente, mas é muito raçudo. Tenta recuperar sempre a bola e quando a tem limpa o jogo com qualidade. É muito difícil falhar uma tomada de decisão e quase sempre tem a decisão mais correta, é muito inteligente.»
O técnico recorda a evolução de João Neves, outro jogador que conhece orgulhosamente bem, para reforçar que tanto um como o outro, mesmo sendo diferentes, tiveram o problema comum de lutarem mais para serem apostas por serem «franzinos». «A qualidade está lá e por isso precisaram de trabalhar para que apostassem neles. Este prémio é o melhor que podia ter acontecido ao Quintas para mostrar ao futebol que mesmo os que parecem jogar com pezinhos de lã e com subtileza têm grande valor».
«Muitos à frente»
Bom aluno e determinado em conciliar os estudos com o futebol, Rafael Quintas é visto como um exemplo. Muito ligado à família, tem no avô uma inspiração maior e essa forte ligação levou-o até a fazer uma espécie de promessa, que deu uma dimensão extra à conquista do título de campeão da Europa.
No seio da Seleção de sub-17 alguns chamam-lhe «presidente», para caracterizar a atitude que tem no grupo e o papel muitas vezes distante, fruto da timidez que o caracteriza e que mistura em doses iguais com a inteligência a jogar.
«Desde sempre que esse miúdo é um relógio suíço. Tudo o que faz é pensado, sabe o que está a fazer e faz bem», confidencia-nos um outro treinador, que preferiu não se identificar, e que conhece Rafael Quintas desde os primeiros toques na bola no Seixal: «É um líder para os colegas e uma delícia de miúdo nos vários escalões por onde passou.»
Além dos que entraram para a história na Albânia, há mais jovens de 17 anos que poderiam estar a vibrar com a distinção lusa. João Milho não tem dúvidas de que é um fenómeno geracional: «Esta geração de 2008 é muito forte, tínhamos e temos muitos jogadores de qualidade para a mesma posição. O Miguel Figueiredo tem muita qualidade e é um jogador acima da média. O Stevan Manuel, o Isaac, que não foi convocado e podia ter sido, o Tomás Soares, o Anísio… O Benfica tem muita qualidade nesta geração.»
Na ressaca da conquista e da distinção de Rafael Quintas, João Milho diz que é tempo de ir com calma e não colocar a pressão errada. «Eles têm de acreditar e trabalhar até ao fim, sem desistir ou desanimar. Se olharmos para a próxima época há muitos jogadores que estão à frente do Quintas. Tem de fazer o trabalho dele e quando tiver uma oportunidade é agarrá-la. O treinador Bruno Lage tem a porta aberta para todos os jogadores de qualidade, mas não serão todos ao mesmo tempo», confidencia João Milho nesta conversa com A BOLA.