Sporting

Rui Borges deve manter o sistema no Sporting

Benfica e FC Porto andam por terras americanas no Mundial de Clubes, em Alvalade contam-se os dias para o início de pré-temporada, embora ainda a mais de dez de distância. Por estes dias, vimos nas redes sociais fotos de Rui Borges a banhos, descanso retemperador depois de uma época em que começou a deixar marca no Vitória de Guimarães num percurso europeu inédito e imaculado e terminou como nunca imaginaria em 2024 por esta altura: campeão nacional no Sporting, obreiro da dobradinha inédita em mais de vinte anos e timoneiro do bicampeonato que não acontecia há mais de 70.

Neste espaço perguntei no início de março, quando a tempestade das lesões começava a abrir para bonança clínica no plantel, se o treinador teria unhas para a guitarra leonina. Com maior ou menor dificuldade provou que tinha. E mostrou o que é, quanto a mim, uma enorme virtude: soube voltar atrás quando percebeu que isso era o melhor para a equipa, mandou o ego às malvas sem se importar que pudessem dizer que a equipa tinha a marca de água de outro treinador, ouviu os jogadores, aceitou o que lhe disseram e pediram e voltou ao 3x4x3 que Amorim instituíra há cinco anos.

Quando chegou, de forma até surpreendente com apenas três treinos, meteu a equipa a jogar com linha defensiva de quatro no dérbi da estreia com o Benfica. Ganhou, talvez até pela surpresa causada, e insistiu no seu cunho, na sua ideia, durante 12 jogos, cinco vitórias, cinco empates e duas derrotas (Leipzig e Dortmund na Champions). A equipa mantinha-se na liderança com os encarnados à perna mas sem estar confortável na nova ideia. E foi então que Rui Borges não teve problemas em ouvir os jogadores, como os próprios explicaram na semana de muitas entrevistas que concederam entre a última jornada de consagração no campeonato e a final da Taça de Portugal, e aceitar voltar atrás por ver que era assim que a equipa mais confortável estaria e mais próxima poderia ficar de chegar ao bi. Resultou.

Rui Borges mostrou que tinha unhas para a guitarra mas mostrou também algum receio natural e que muitas vezes deu a ideia de ser aquilo que é chamado de treinador de equipa pequena. Natural para quem tem ainda carreira curta e em crescendo e sem experiência, nem como jogador, de grandes clubes. Rui Borges nunca vai ser, pelo menos no curto prazo, um treinador da moda do comentariado nacional, que muitas vezes dá mais importância às aparências e ao discurso, inspirado em Mourinhos e Amorins como se Mourinhos e Amorins aparecessem debaixo de qualquer pedra levantada e como se o discurso, que é muito importante, sim, fosse a aptidão que se sobrepõe a qualquer outra para se ser um treinador vencedor. Rui Borges mostrou que o mais importante é mesmo o trabalho e a humildade de conseguir voltar atrás sem se importar que digam que o mérito é mais de outro e não dele.

Por tudo isto, Rui Borges mostrou que tem outra aptidão, além dessa humidade, e que é bem mais importante do que as palavras de encantar: a inteligência. Só uma pessoa inteligente o teria feito e por isso se prepara, acredito eu, para continuar a colocar o Sporting a jogar no sistema que melhor lhe assenta. Os sinais estão aí, o facto de os leões poderem já nem contratar um lateral-direito — posição que queriam reforçar em janeiro mesmo por conta da mudança de sistema e que tinham apontado reforçar no verão —, também pela promoção de que Diogo Travassos pode ter, abre o véu sobre o novo Sporting que Rui Borges vai começar a preparar em julho: será um novo Sporting mas creio que com o sistema antigo. E não há mal nenhum nisso, porque o campeão 2024/2025 já foi o leão de Rui Borges e vai continuar sempre a ser o leão do treinador transmontano e agora de mais nenhum outro.

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