O futuro de Gyokeres, craque do Sporting

Quando tudo parecia calmo e tranquilo no reino do leão e quando todos pareciam muito unidos surge a questão da venda de Gyokeres, que nos prova que no futebol, a imagem e a aparência é, muitas vezes, diferente da realidade.
Gestão desportiva ‘vs’ financeira
O Existem alguns factos que vale a pena analisar e enquadrar. Facto 1: do ponto de vista desportivo ninguém tem dúvidas que, com Gyokeres, o Sporting tem uma probabilidade muito superior de vencer títulos. Facto 2: Uma venda de Gyokeres seria suficiente para resolver o próximo ano fiscal, garantindo um resultado contabilístico positivo?
Depende. A compra de Gyokeres pressupôs um investimento de €25 milhões ficando o Coventry com 10% de uma futura mais valia. Tivemos também conhecimento que, independentemente do que possa acontecer, o empresário de Gyokeres terá sempre uma comissão de 10% sobre uma futura venda. Ora, se por exemplo, o jogador sueco for vendido por €60 M fixos, em termos contabilísticos qual será a mais valia do Sporting? Se pegarmos nos €60 M e subtrairmos o valor contabilístico de Gyokeres à data de hoje (€15 M), os 10% do empresário (€6 M), os 10% da mais valia que o Coventry tem direito (€3,5 M), e os 5% do mecanismo de solidariedade (€3 M), a mais valia contabilística desta venda para o Sporting seria aproximadamente de €32,5 M.
Facto 3: tendo em conta que, para ter um resultado fiscal positivo, o Sporting tem de vender um valor líquido entre €40 M e €60 M, percebemos que este negócio não é interessante para o clube de Alvalade. Não só teria de vender ainda outro jogador, durante o ano fiscal para ter resultado positivo, como perderia o seu melhor ativo desportivo.
Ótica Sporting
No parágrafo anterior utilizei propositadamente um exemplo de uma venda de Gyokeres por €60 M e demonstrei que este valor não é interessante para o Sporting, nem do ponto de vista desportivo nem financeiro.
No fundo, é por este motivo que Frederico Varandas referiu publicamente que se aparecesse uma proposta de €60 M+€10 M por objetivos não ia vender o goleador sueco. Se desportivamente o Sporting nunca vai ganhar com este negócio, então ao menos que tenha algum proveito na parte financeira. Contudo, há aqui um ponto a que os dirigentes leoninos devem estar atentos.
Há um ano, já depois do mercado de verão fechar, Frederico Varandas passou um mandato exclusivo de venda, em que ficou definido o seguinte: o empresário de Gyokeres receberia €6 M se apresentasse uma proposta igual ou superior a €60 M e o Sporting a recusasse.
Analisando os números não consigo encontrar um motivo para que Frederico Varandas tenha passado este mandato, sobretudo depois do mercado fechar. Também não acredito que os dirigentes do Sporting tenham passado o mandato sem fazer contas ou sem pensar que tudo podia correr muito bem.
Então por que motivo deram este mandato ao agente do Gyokeres? Tendo em conta todos estes factos, não me parece que a forma como a administração do Sporting está a gerir este processo seja a melhor.
Vir para a praça pública fazer um braço de ferro, demonstrar que existe divisão interna e ainda referir que, até ao dia que o presidente leonino falou, não tinha recebido nenhuma proposta, não faz o mínimo sentido.
Por vários motivos. O primeiro é que ao dizer que não recebeu nenhuma proposta está a desvalorizar o seu melhor ativo. O segundo porque demonstra que existe uma divisão interna e um calcanhar de Aquiles (valor que terá de pagar ao empresário se recusar uma proposta igual ou superior a €60 M), fazendo com que perca poder negocial com possíveis interessados.
Por fim, esgrimir argumentos na praça pública poderá ser positivo para a imagem junto dos associados, mas tem um impacto muito negativo dentro do balneário. Como diz o ditado, nas costas dos outros vejo as minhas!
Ótica Gyokeres
O avançado sueco chegou viu e venceu. Fez uma primeira temporada incrível e uma segunda ainda melhor. Provou o seu valor em diferentes contextos, desde Liga dos Campeões a jogos pela sua seleção. No final da primeira temporada falou-se da possibilidade de sair. Acabou por não o fazer porque acreditou no projeto e porque Ruben Amorim o conseguiu convencer a ficar de corpo e alma.
Paralelamente, o seu agente encetou negociações com o Sporting e conseguiu um mandato exclusivo de venda para um valor de €60 M. Tendo em conta este último ponto, qual foi a expetativa que foi criada no jogador?
Parece-me que Gyokeres se focou no seu trabalho com a consciência que a administração verde e branca aceitaria libertá-lo pelo valor inscrito no mandato exclusivo de venda. Tendo em conta este contexto, e se nos colocarmos nos pés do avançado sueco, o que pensaríamos se, de repente, o presidente do clube que representamos afirmasse publicamente que por €60 M não nos deixaria sair, quando no ano anterior tinha definido esse valor num mandato exclusivo de venda?
Naturalmente que Gyokeres deve ter ficado furioso. Tudo o resto que se tem visto na praça pública, com mensagens indiretas, de um lado e do outro, através da comunicação social, só piora a situação.
Idade/concorrência
Gyokeres tem 27 anos. Já não se encontra na faixa etária que os clubes mais valorizam (20 a 25 anos). Apesar disso, é um jogador determinante e que pode fazer a diferença. Outro ponto importante é que não há muitos clubes que precisem de um avançado e que tenham a capacidade de investir €70 M num jogador de 27 anos.
A acrescentar a tudo isto, as propostas que vão ser apresentadas irão refletir a disputa interna entre Gyokeres/agentes e direção.
Adicionalmente, quem estiver mesmo interessado em comprar Gyokeres pode ainda criar mais pressão interna no Sporting com notícias de que está próximo de fechar outro jogador para a posição do avançado sueco.
Aos 27 anos Gyokeres pretendia, muito mais do que dinheiro, dar o salto desportivo para outro patamar. O que me parece óbvio é que a postura dos dois lados (Sporting e Gyokeres) não está a ser a melhor, e contribui para aumentar a pressão sobre os dois, diminuindo o poder negocial do Sporting e aumentando o mal-estar do jogador sueco.
A valorizar: Renato Paiva
O atual treinador do Botafogo não teve a oportunidade que merecia em Portugal e, ano após ano, está a provar o seu valor noutros países.
A desvalorizar: Kokçu/Lage
O desentendimento entre Bruno Lage e Kokçu correu mundo e deixa uma imagem muito negativa.