Sporting

Tem juízo, Gyokeres

Salvo raríssimas exceções, nenhum jogador é maior do que o clube que representa. Digamos que nessas exceções estarão Cristiano Ronaldo em relação ao Al Nassr ou Lionel Messi em relação ao Inter Miami. De resto, nenhum outro futebolista da atualidade se pode colocar nesse trono sem mais nem menos. E, mesmo nos casos dos dois extra-terrestres do atual milénio, urge sublinhar que Manchester United, Real Madrid, Juventus e Barcelona já eram gigantes universais, cobertos de glória e ultraconquistadores, ainda CR7 e Messi não eram nascidos…

O braço de ferro, transformado em novela de verão, entre Sporting e Viktor Gyokeres promete durar, sobretudo pela legitimidade que ambas as partes defendem ter no processo. Porém, até neste campo, há argumentos mais legítimos do que outros. E, neste plano, há, também, o ponto inicial desta conversa: é verdade que ao ficar à beira da Bota de Ouro, ao sagrar-se duas vezes campeão de Portugal e ao brilhar intensamente na fase de grupos da última UEFA Champions League, o internacional sueco tornou-se numa das maiores figuras e num dos principais ativos da história do emblema de Alvalade. Mas (e sublinhamos a frase que se segue) não se tornou maior do que o Sporting.

Aliás (e ficamo-nos pelos factos), tornou-se maior precisamente por conta da aposta nele feita por parte dos verdes e brancos, em particular pela troika leonina, só recentemente desfeita, formada por Frederico Varandas, Hugo Viana e Rúben Amorim.

Sabemos bem que nestas coisas do deve e do haver nem sempre há total justiça e, obviamente, também o Sporting ficou a ganhar, e muito, com a inclusão de Gyokeres no seu plantel nas duas últimas temporadas, ele que somou incríveis 97 golos e 27 assistências em 102 jogos.

Números que fizeram disparar o valor do avançado sueco, contratado pelos leões ao Coventry por 24 milhões de euros, deixando para trás uma carreira modesta, ao longo da qual, além da passagem pelo emblema do segundo escalão inglês, vestiu as camisolas de Brighton, Swansea e St. Pauli.

É natural, por isso, que o Sporting não aceite qualquer proposta, tendo já, segundo o presidente, recusado uma no valor de €60 milhões mais objetivos. É natural, também, que, aos 27 anos, Gyokeres anseie por voos maiores, seja representando o Arsenal, seja o Man. United, a Juventus ou qualquer outro gigante europeu. Mas não devia querê-lo a qualquer custo e muito menos pondo em causa o legado que deixará no emblema de Alvalade.

Acredito que o possante atacante seja agradecido ao Sporting por tudo o que este lhe possibilitou. Acredito mesmo. Porém, talvez mal influenciado, não é isso que tem demonstrado na sucessão de episódios aos quais acrescenta, agora, esta ameaça de greve aos treinos em Alcochete.

Não lhe fica bem – ainda mais quando ninguém o obrigou, decerto, a aceitar a cláusula de 100 milhões de euros que consta no contrato que o liga aos leões e que assinou a troco, seguramente, de um ordenado substancial. Um contrato que, como profissional de excelência que sempre demonstrou ser, Gyokeres deveria cumprir até ao dia em que um novo emblema cumpra os requisitos que ele deseja para o seu futuro, sim, mas que cumpra também aquilo que o Sporting considera justo por conta do investimento financeiro e desportivo que nele fez.

É hora, parece-me, de alguém pôr um pouco de juizo na cabeça de Gyokeres, para que o sueco analise friamente (como é sua característica) tudo o que envolve a sua eventual transferência para Inglaterra e para que não menorize o papel que o seu ainda atual clube teve na sua vida.

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