Clássico do Dragão confirma: há uma nova era

Os números ajudam a perceber melhor o que estava e está em causa: em 118 jogos no Porto entre dragões e águias, o Benfica apenas vencera por 18 vezes, somando 30 empates e 70 derrotas; e apenas por oito ocasiões o clube da capital tinha conseguido ganhar duas vezes na mesma época, para o campeonato, diante do velho rival da Invicta.
Goleando por 4-1, os encarnados lograram um acumulado de 8-2 na mesma temporada, tornando-se Bruno Lage o primeiro treinador português a ganhar os dois jogos da Liga ao FC Porto na mesma época desportiva. Talvez nem o mais otimista dos benfiquistas imaginava que em abril de 2025 o fosso entre os dois clubes mais fortes dos últimos 40 anos em Portugal fosse tão fundo. Uma diferença que se deve a um crescimento das águias após o mercado de janeiro, mas fundamentalmente a uma desorientação geral de um dragão que vive uma espécie de ano zero, incapaz de sarar feridas ainda demasiado expostas e cujas debilidades são facilmente exploradas por adversários bem organizados e com muita qualidade individual.
Que isto não sirva, no entanto, para diminuir a fantástica noite de um Benfica personalizado, organizado e sedento de ganhar um campeonato que será taco a taco com o Sporting. Se dúvidas houvesse sobre a qualidade de Pavlidis, aí está um hat trick (mais um para o grego) em pleno Dragão para o comprovar (três golos de matador gourmet, sem precisar de penáltis) que deu corpo a uma estratégia bem montada pelo técnico português, fosse no reposicionamento de Di María e Aursnes (dois tipos distintos de talento, mas cujo complemento deixam qualquer treinador feliz) ou na forma compacta de defender mais atrás quando necessário, embora nunca abdicando da baliza contrária.
Aliás, a ideia com que se fica dos dois clássicos de 2024/2025 é que a águia perdeu a oportunidade de conseguir resultados históricos em ambos os estádios. Não por este ser um enorme Benfica, mas essencialmente porque este Porto é uma sobra daquele aterrorizava o grande adversário há apenas um par de anos. Que não haja dúvidas: o futebol português vive uma nova era, com os dois grandes de Lisboa a disputarem novamente a hegemonia. Resta saber qual a margem de manobra de Villas-Boas para reentrar na corrida. Porque a maioria que o apoia é a mesma que tem frescas na memória as goleadas ao rival de sempre. E a minoria vocal aí está a aparecer em 3,2,1…