A coragem do presidente Varandas

Não havia necessidade de ser assim, mas a história de Viktor Gyokeres no Sporting chegou ao fim. Em dois anos, o sueco carregou o Sporting até ao bicampeonato e arrasou quem lhe apareceu pela frente. Os números — 97 golos em 102 jogos, aos quais acrescentou 27 assistências, numa participação direta em 124 (!!!) golos — são de deixar de queixo caído e a coisa mais estranha em todo este rocambolesco processo é que, fazendo fé nas palavras de Frederico Varandas, não tenha chegado, a Alvalade, qualquer proposta pelo supergoleador. Estará a Europa a dormir?
Haveria, certamente, outra forma de fazer as coisas, não falássemos de um dos melhores jogadores da história do futebol português e com um impacto brutal e sem paralelo na minha memória, mas o mundo do futebol moderno, onde empresários mandam e jogadores obedecem, quis que fosse assim. É pena.
E, por isso, há que salutar a postura de Frederico Varandas, que, serenamente, reagiu ao caso, sossegou os inquietos adeptos sportinguistas, que já perceberam que não haverá volta a dar e perderão o ídolo da máscara, e colocou os empresários do jogador em sentido. A partir da reação de Varandas, ficaram a saber que de pouco adiantará plantar notícias estrategicamente, ameaçar com áudios de reuniões privadas e fazer pressão para que o Sporting aceite um valor absurdo — qualquer verba abaixo dos €80 milhões parecer-me-á manifestamente pouco — para a importância que Gyokeres tem na equipa. Se não há clube disposto a lá chegar, isso é problema do jogador e dos seus empresários.
Frederico Varandas, como presidente do Sporting, não alinha em jogos com parceiros estratégicos que enfraqueçam a equipa e só tem de se preocupar com os interesses do clube e, não sendo possível segurar o avançado para uma terceira época, que lhe garantiria enorme avanço no ataque ao tricampeonato, resta-lhe, tranquilamente, esperar que algum clube avance com uma proposta que o satisfaça. E certamente confiará no scouting para a substituição do sueco. Como ele não haverá igual, sim, mas a equipa de prospeção leonina tem sido lesta e competente a encontrar talento.
A mensagem do dirigente, de resto, não visou apenas Gyokeres e a sua entourage, foi também um aviso à navegação e uma demonstração de que o Sporting tem, hoje, uma força no mercado que não existia até um passado bem recente. Para além de Gyokeres, não faltarão interessados em Diomande, Hjulmand, Trincão ou Pedro Gonçalves, mas agora já sabem: ou pagam o que o Sporting quer, ou terão de bater noutra porta.