Danilo reflete sobre “pressão social”: No FC Porto, comprei um Camaro…

Danilo, que aos 33 anos voltou ao Brasil para representar o Flamengo, refletiu esta segunda-feira sobre a forma como foi amadurecendo ao longo da sua carreira, em que passou por clubes como o FC Porto, Real Madrid, Manchester City e Juventus.
Em entrevista ao jornal The Guardian, o experiente lateral-direito brasileiro até aproveitou para revelar uma história que remonta aos seus tempos na Invicta para demonstrar a forma como, nessa altura, cedeu à pressão social associada a futebolistas de alto nível.
“O principal é que entendas quem realmente és e que não sigas o rebanho, por assim dizer. Eu não tenho de pensar como o resto das pessoas nem a viver como elas. Não tenho de me vestir como o resto nem de falar sobre as mesmas coisas. Quando jogava no FC Porto, por exemplo, vinha ao Brasil uma vez por ano. Comprei um carro, um Camaro, que custou 500 mil reais [cerca de 80 mil euros]. O que é que eu ia fazer um Camaro em Bicas? Existe muita pressão social para que tenhas um carro bom por seres um futebolista e tudo isso, mas isso é algo para o qual olho hoje e digo: ‘A sério? Estás a brincar…’”, explicou.
Nesse âmbito, admitindo que sofreu muito em termos psicológicos no Real Madrid, depois de ter deixado o FC Porto em 2015, a troco de 31,5 milhões de euros, Danilo atribuiu muito desse sofrimento à atenção que dava na altura às redes sociais.
“O Real Madrid foi o pico deste problema, porque é o maior clube do mundo. Eu sofri muito, ao ponto de ter de procurar ajuda psicológica. Houve alturas em que parecia que eu já não me lembrava de como jogar futebol. O criticismo começou mesmo a magoar-me e e eu era um completo refém disso, das críticas e das redes sociais. Foi aí que comecei a trabalhar com um psicólogo do desporto”, revelou, aconselhando qualquer jogador que sofra do mesmo problema a procurar esse tipo de profissionais e criticando os clubes pela forma como “ignoram” este problema.
“Vou dizer isto de uma forma muito direta: os clubes só fazem algo quando percebem o prejuízo financeiro que estão a sofrer. Vejam quantos jogadores eram estrelas nas camadas jovens e depois não conseguiram chegar a profissionais por causa desta avalanche de críticas. Quando tu surges, há muito dinheiro, mulheres e fama, mas como lidar com isso? Todos conhecemos alguém que se perdeu no futebol. Quando os clubes perceberem quantos jogadores estão a perder devido a problemas emocionais e psicológicos, pensarão duas vezes e começarão a investir, porque isto são valores técnicos e financeiros para a equipa. E isso está mal, porque eles não querem saber do ser humano. Precisamos de humanizar mais o futebol. As pessoas continuam a ignorar, não gostam de falar disto, mas quando toca no lado financeiro, já se preocupam”, rematou.