Após empate frente ao Braga Rui Borges justifica

As conferências de imprensa não foram inventadas por acaso. E muito menos para satisfazer jornalistas. A história é meio difusa, mas aponta-se o ano de 1913, e o mandato de Woodrow Wilson na presidência dos Estados Unidos da América, como ponto inicial deste modo de comunicação. Wilson convidou a imprensa para uma conversa informal e percebeu, perante a quantidade de gente que tinha pela frente, que seria melhor organizar um evento com perguntas a respostas.
Entretanto já lá vão 112 anos. Setenta ou 80 anos depois já havia, obviamente, conferências de imprensa no futebol, mas ainda se podia trabalhar à porta da cabina. Não foram os jornalistas os responsáveis pela uniformização. Foram os organizadores — FIFA, UEFA, federações, ligas, clubes — quem estandardizou as conversas com os protagonistas.
Isto terá conduzido, nas últimas duas/três décadas, à ideia de que as conferências de imprensa ou as zonas mistas (que na prática já nem existem) servem para satisfazer jornalistas. Não é verdade. Se os treinadores consideram aborrecido ter de falar três ou quatro vezes por semana, alguém acredita que os jornalistas acham extremamente interessante o que dizem e vão entusiasmadíssimos a um serviço no qual, em 90 por cento das ocasiões, vão ouvir banalidades repetidas de forma diferente, e às vezes até igual?
As conferências de imprensa — a imprensa enquanto tal — visam servir o público. Existem para levar ao público as palavras dos protagonistas.
Rui Borges, no final do Sporting-SC Braga, cometeu dois erros e um eventual erro:
1) errou ao dizer «não tenho de justificar»: tem sim, Rui. É por isso que vai a uma conferência de imprensa. Que são «opções técnicas» toda a gente sabe, e que lhe cabe toda a autoridade para as tomar também. O que as pessoas (não os jornalistas) esperam são justificações;
2) errou no final, quando disse que não se deixa afetar pela crítica: se isso fosse verdade não tinha resvalado para uma linguagem verbal e corporal própria de quem estava extremamente incomodado;
3) a ordem não é cronológica, bem sei, e aqui vai o eventual erro. A forma como falou de Harder tem uma de duas justificações: ou Rui Borges conhece bem o futebolista, e sabe que funcionará melhor depois de publicamente espicaçado em dia de aniversário, ou Rui Borges foi permeável a um mau resultado e não lida com isso assim tão bem como apregoa.