É tão fácil pedir desculpa em italiano, Matheus Reis

Com o pé esquerdo, Matheus Reis pisou a cabeça de Andrea Belotti, em lance dividido junto a uma das bandeirolas de canto, ao minuto 90+5 da final da Taça de Portugal entre Sporting e Benfica, no Estádio Nacional, domingo, 25 de maio. Nesta linhas, apenas factos, indesmentíveis, seja qual for o lado da barricada em que se posicionem os leitores sobre as intenções do jogador brasileiro.
A decisão da prova rainha de 2024/25 ficará para a história não só pela vitória dos leões, mas também por aquele momento que perdurará no imaginário dos adeptos do futebol e até dos que dispensam notícias sobre o desporto-rei. Independentemente das alegações de Matheus Reis, que se defendeu com mensagem nas redes sociais em que justificava o pisão com um «desequilíbrio do corpo», mais de 48 horas depois de concluído o encontro com as águias, as imagens são claras e perturbadoras.
Não pretendo fazer juízos de valor a propósito da intencionalidade do ato, ao invés prefiro lançar aqui um desafio: que faríamos se, porventura, estivéssemos no lugar de Matheus Reis e ainda no relvado, nos balneários do Jamor ou já no autocarro da equipa leonina rumo a Alcochete fôssemos confrontados com as imagens que se têm visto e revisto até à exaustão? Estivesse ou não de consciência tranquila — porque no calor da luta todos podemos perder as estribeiras antes de nos arrependermos no segundo seguinte, cientes de que as consequências surgirão na medida da gravidade dos pecados cometidos — pegaria no telemóvel à velocidade da luz, ligaria a internet, entraria no Google e pesquisaria por tradutor.
Aí chegado, trataria de perceber como se pode pedir desculpa em italiano, a língua de Andrea Belotti, e utilizaria as mesmas redes sociais com dois dias de antecedência para me penitenciar junto do avançado que o Benfica trouxe para Portugal no mercado de janeiro. Chiedo scusa [peço desculpa], scusami [desculpa-me], scusami tanto [sinto muito], scusami, non volevo [desculpa-me, não quis fazer isso], ti chiedo scusa dal profondo del cuor [peço-te desculpa do fundo do coração], mi scuso molto, non era mia intenzione [peço-te muita desculpa, não era minha intenção], sono mortificato, chiedo scusa [sinto-me péssimo, peço desculpa]… Era escolher, Matheus Reis, frases que sem grande treino poderiam igualmente ser usadas de viva voz num contacto telefónico com Belotti.
Se quando pisamos o vizinho do lado inadvertidamente em ambiente de multidão, num transporte público ou num concerto, por exemplo, pedimos desculpa… diria que se pisarmos a cabeça a alguém — deliberadamente ou acidentalmente — o mínimo a fazer será ir por esse caminho. Um caminho que Matheus Reis devia ter percorrido, sem taticismos legais, sugeridos ou não pelos advogados do Sporting. Sim, porque, por vezes, o que acontece em campo não fica só dentro de campo — e o preço a pagar sempre que o mundo nos vê e revê em câmara lenta é alto.