ENTREVISTA A BOLA Antunes: «A base para o título no Sporting foi a união»

— Falemos novamente da Seleção. Após boas épocas no Dínamo de Kiev, sente que poderia ter feito parte dos convocados para o Euro 2016?
— Poderia ter sido convocado para esse Europeu, acredito que sim, até porque fiz o apuramento para a fase final, mas quem fez parte das escolhas também mereceu. Fiquei mais desiludido quando não fui ao Mundial-2014, tinha feito a qualificação toda e optaram por levar apenas um lateral-esquerdo, o Fábio Coentrão, para levar mais um lateral-direito e aí, sim, fiquei desiludido. Acho que houve falta de coerência nas escolhas.
Fiquei mais desiludido por não ir ao Mundial 2014, acho que houve falta de coerência, nas escolhas
— O seu último jogo pela Seleção foi em novembro de 2017 e marcou, inclusive, o seu único golo pela equipa das quinas. Fez 13 jogos pela Seleção, ao longo de 10 anos. Por se ter estreado tão jovem, sente que poderia ter tido um percurso diferente na seleção, eventualmente com presença numa fase final, como falou anteriormente?
— Sim, completamente. 13 internacionalizações, num percurso de doze/treze anos, acho que é muito pouco, embora essas 13 tenham sido muito boas, foi um orgulho representar a seleção. Mas há aquele sentimento de que ficou alguma coisa por fazer.
— Nesse mesmo ano, 2017, regressa a Espanha, desta vez para o Getafe. Sentia que era o momento de sair da Ucrânia e procurar um novo ambiente?
— Sim. Naquele momento, o Dinamo de Kiev já estava a passar por uma fase complicada e decidi que era o momento certo para sair. Regressei a Espanha, um campeonato onde me sentia bem. Voltou a ser uma passagem muito boa por lá e a segunda época, foi marcante, porque ninguém esperava que nós ficássemos em quinto e acabaram por ser épocas bem positivas.
— Após vários anos no estrangeiro, regressa a Portugal para representar o Sporting, um clube que não conquistava o título de campeão nacional há 19 anos. Que clube encontrou ?
— Quando chego, acabo por encontrar um clube já em organização, não o que é hoje em dia, mas também não o que era antes. Vi um clube já minimamente organizado, pelo treinador, Ruben Amorim e pelo presidente, Frederico Varandas, já com ideias bem vincadas e isso fez com que houvesse mais estabilidade no seio do grupo.
— 2020/2021 foi uma época atribulada. O Covid-19, sem adeptos nas bancadas, mas o Sporting conseguiu-se sagrar campeão, qual foi a base para o regresso dos leões à glória?
— A base foi a união. Não havia adeptos e nós tivemos de nos agarrar uns aos outros e isso foi logo construído no estágio no Algarve. Lembro-me perfeitamente. Tornámo-nos num grupo sólido e coeso, com ideias claras, onde cada um era capaz de dar a vida pelos outros. Existia também estabilidade, para com o treinador e no clube que nos transmitia confiança. A entreajuda, a união, a competência, foram a chave para o sucesso.
— Como descreve Ruben Amorim enquanto treinador?
— Já tive oportunidade de o dizer várias vezes. Fui companheiro do Ruben enquanto jogador e nunca pensei que ele desse treinador. Mas ele revelou-se um grandíssimo treinador, em todos os aspetos. Não só na parte tática, como também na parte humana.
— Acredita que ele vai ser feliz em Manchester?
— Acho que sim. Quando ele chegou ao Sporting, os primeiros meses não também não foram muito bons. Lembro-me que toda a gente o criticava, e o que é certo, é que a Administração lhe deu a confiança para trabalhar e conseguiu os resultados que queria. Ainda está no início de uma belíssima carreira e certamente vamos ouvir falar muito dele no futuro.
— Para o seu lugar, chegou Rui Borges, que conseguiu a dobradinha. Acha que é o treinador ideal para o Sporting?
— Treinador que ganha, é porque tem competência. Não conheço o Rui Borges, mas o conheço o seu adjunto, o Tiago Aguiar, que foi meu treinador no Paços de Ferreira e sei que ele é muito capaz. Posto isto, sabendo das qualidades do Tiago e conhecendo os resultados do Rui Borges, acho que ele é o treinador certo para o Sporting.
— Não é apenas o Sporting que está em alta. A Seleção Nacional conquistou o terceiro título da sua história. Acredita que este é apenas o início de um ciclo vitorioso?
— O que eu acredito é que temos uma grande Seleção e toda a gente sabe disso. Jogadores incríveis, com muito potencial, uma mistura entre experiência e juventude. Acredito eu e acreditam os portugueses, que pode vir aí uma série de vitórias muito boas.
— O que acha da evolução do seu companheiro de posição e antigo colega de equipa, o Nuno Mendes?
— O Nuno para mim, neste momento, é o melhor lateral esquerdo do mundo. De longe. Pela sua maturidade, pelo seu potencial técnico, pela sua envergadura física. É um lateral muito completo, é impressionante. Não é nada que me surpreenda. Tenho um orgulho imenso em vê-lo a subir cada vez mais.