Sporting

Gyokeres perdeu 2 milhões no Sporting

No ano passado o Sporting já era campeão por esta altura. À entrada para a última jornada já os sportinguistas tinham feito a festa no Marquês, já Ruben Amorim se tinha arrependido de ter ido a Inglaterra (adiando o seu destino) para depois assumir a tarefa do bicampeonato e preparavam-se os verdes e brancos para receber o troféu em Alvalade, na antecâmara da Taça de Portugal que perderiam para o FC Porto. Nessa altura, antes do Jamor com regularidade e depois do Jamor com insistência, tinha-se como adquirida a saída de Viktor Gyokeres, aquele sueco alto e loiro que caiu como uma bomba no futebol português. Era só uma questão de tempo até o Sporting o ver partir um ano depois de o ver chegar.

Passou um ano, o Sporting ainda não é bicampeão — veremos se vai ser ou se deixa escorregar o título das mãos na última jornada para o Benfica —, ainda vai à final da Taça de Portugal mas a mesma certeza: Gyokeres vai sair no final da época. A diferença é que desta vez vai mesmo.

No verão passado fui daqueles, se calhar poucos, que sempre acreditou que o supergoleador ficava mais um ano em Alvalade. O contexto nessa altura assim me fez acreditar: o valor elevado que os leões pediam por um jogador com cláusula de 100 milhões de euros restringia a saída a pouco mais de meia dúzia de pretendentes e, desses, poucos ou nenhum precisava assim tanto de um ponta de lança, ainda para mais tão caro como o camisola 9 do Sporting.

Mas não foi só por isso que Gyokeres ficou — e satisfeito por ficar. Houve três fatores que permitiram ao avançado não fazer qualquer tipo de esforço para provocar a saída: jogar a Champions; trabalhar com Amorim e por isso satisfazer o apelo para a continuidade feita pelo treinador; ver a administração da SAD leonina reconhecer-lhe o esforço para um ano depois não colocar entraves à saída, antes até facilitar um pouco com valor abaixo da cláusula, o tal acordo a que já chamam de pacto.

Chegou a hora da verdade. Se no ano passado arrisquei dizer, logo no início do verão, que Gyokeres ficava, agora digo (não arrisco, porque nem há risco nesta adivinhação) que vai embora e o tão badalado valor da saída mediante o pacto entre SAD e jogador (ou o seu empresário, o meio sueco meio turco Hasan Çetinkaya) é agora tema de debate nos programas de TV, nas redes sociais, nos jornais e rádios, nos cafés. Baixo ou alto? Justo ou injusto? Assim à partida, se falamos de 70 a 75 milhões de euros são menos 30 ou 25 milhões do que o que consta na cláusula de rescisão, a mais alta alguma vez contratualizada pelo emblema de Alvalade, que igualou a de Bruno Fernandes, transferido em janeiro de 2020 para o Manchester United por… 55 milhões de euros; que foi igualada pela de Geovany Quenda já transferido por… 52 milhões para o Chelsea mas que fica mais um ano antes e ir-se embora. Pouco, dirão muitos.

Mas há o pacto. O tal que teve a sua parte (com a Champions e com Amorim) para permitir a continuidade do goleador mais um ano no Sporting, mais um ano em que Gyokeres (e ainda faltam dois jogos para o final da temporada) tem nesta altura responsabilidade direta em 53 por cento dos 122 golos já marcados pelos leões — marcou 52 (43 por cento) e fez 13 assistências. Com estes golos e assistências, o Sporting está perto de ser campeão (veremos) e com isso entrar na fase de Liga da Champions (ou nas eliminatórias, se deixar escorregar o título) e garantir, assim à cabeça e de contas ligeiras, 40 milhões de euros, que acrescenta aos 70/75 milhões do passe do sueco e que se juntam aos mais de 70 milhões das vendas de Quenda e Essugo entre mercados. Tudo somado vai a caminho dos 200 milhões. Ora muitos destes são da responsabilidade de Gyokeres. O mesmo que no verão de 2023 perdeu dinheiro, ou deixaria de ganhar, por escolher o Sporting.

Há dois verões, quando decidiu ir para Alvalade, o avançado tinha outras possibilidades para a carreira, a maioria da Premier League, o seu grande sonho e que espreitava de perto, do Championship, onde jogava no Coventry. Não foi para onde lhe pagavam 3 milhões de euros líquidos por ano, foi para onde lhe oferecerem 2 milhões. Ficou dois anos, deixou de ganhar 2 milhões, mas prepara-se para ir receber mais de 8 milhões por temporada. E o Sporting teve o seu goleador uma época a mais do que se chegou a prever e tirou esses dividendos, com a possibilidade séria dum bicampeonato inédito em 70 anos. Por isso deixá-lo sair por 70 milhões não me parece assim tão mau. Amor com amor se paga e Gyokeres mostrou ter tido e continuar a ter para a vida amor ao Sporting. É hora do adeus. E de cumprir a palavra dada…

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