
O último adeus a Daniel Agrelo, bombeiro da Covilhã que morreu a caminho de um incêndio no concelho do Fundão, ficou marcado pela emoção, mas também pela contestação política. Durante o cortejo fúnebre, Luís Montenegro, acompanhado pela ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, foi alvo de assobios e críticas. “Sai daqui, deixa-nos chorar” e “o primeiro-ministro não merece estar aqui” foram algumas das frases que se ouviram entre a multidão.
A contestação não surpreende num momento em que as populações afetadas pelos incêndios se sentem desamparadas. Apesar das justificações de Montenegro sobre os “24 dias seguidos de severidade meteorológica”, muitos acusam o Governo de falhar na resposta rápida e eficaz ao drama das chamas. O bispo da Guarda, D. José Pereira, presidiu à cerimónia e deixou um alerta sentido: “Os bombeiros são heróis, mas não podemos pedir que sejam super-heróis. É preciso fazer mais por eles.”
O funeral de Daniel Agrelo, que deixa um filho de 14 anos, juntou centenas de populares num ambiente de dor e revolta. Contudo, foram poucos os bombeiros presentes, já que grande parte das corporações continua mobilizada no combate aos fogos. O momento foi vivido em silêncio e lágrimas, ficando marcada a memória de um homem que deu a vida em missão de serviço público.
Horas mais tarde, Montenegro deslocou-se ao funeral de Carlos Dâmaso, ex-autarca de Vila Franca do Deão, a primeira vítima mortal dos incêndios deste ano. Diferente do que aconteceu na Covilhã, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, marcou presença e destacou o gesto solidário de Carlos, que morreu a combater um fogo na sua terra natal. O antigo autarca ajudou a salvar bens do atual presidente da junta, seu rival político, utilizando o trator deste para travar as chamas.
Entre críticas e homenagens, os funerais de Daniel Agrelo e Carlos Dâmaso expuseram a fragilidade de quem combate diariamente os incêndios em Portugal. Num verão marcado por tragédias, a exigência das populações é clara: mais apoio e melhores condições para os bombeiros, que continuam na linha da frente contra um inimigo cada vez mais devastador.