Pote recorda tempos de escola: «Era inteligente nas cábulas. Ia às papelarias e minimizava os textos…»

Pote esteve este sábado no programa ‘Alta Definição’, da SIC. O médio do Sporting passou em revista vários temas, não só relativos ao futebol, recordando por exemplo os tempos de escola.
Alguém te trata por Pedro?
Sim, fora do futebol. No futebol era o Pote e para a família o ‘Potinho’
Sempre sonhaste a ser jogador?
Sim, sempre me imaginei a jogar futebol. Na escola gostava de estar com os colegas nunca me imaginei a fazer outra coisa.
Falavas muito nas aulas?
Sim e às vezes levava um raspanete das professoras pois desconcentrava-me a mim e aos outros.
Usavas muitas cábulas?
Sim. Era um aluno que estudava muito pouco mas era inteligente nas cábulas. Ia às papelarias e minimizava os textos grandes… depois escondia no bolso ou por baixo das pernas.
Nunca foste apanhado?
Apanharam-me uma vez e levei o recado na caderneta para os pais.
Jogaste outra coisa além do futebol?
Joguei andebol e atletismo pois gostava de desporto
Ficavas a jogar no Vidago até ao fim por causa da tua mãe?
Sim, a minha mãe trabalhava no clube e a minha casa era no estádio. Esperava que os jogadores chegassem e elas deixavam-me bater umas bolas com os guarda-redes… diziam que era atrevido pois aos 8 anos e jogava com homens de 30. Era o que gostava, um menino a partilhar o treino com eles. Eles treinavam à noite e eu ficava a jogar até o presidente ligar para a minha mãe a dizer que tinham de desligar as luzes por causa da conta. Às vezes também estava o meu irmão que ia à baliza. Eu acho que até foi guarda-redes por minha causa e ele nem gostava (sorrindo). Foi uma fase da minha vida muito boa pois era só diversão e jogar futebol.
E marcou sete golos ao teu irmão…
Eu jogava no Chaves e ele no Vidago e só queria marcar golos, nem via quem estava na baliza. No fim é que começou a chorar e dar pontapés… coisas de irmão mais novo.
Já eras resmungão?
Sou um bocado resmungão pois é a minha personalidade, às vezes até demasiado. Tenho um problema com a mania da superioridade pois acho que todos somos iguais e há pessoas que se acham mais que as outras… eu fico chateado por isso.
Gosta de picar os adversários?
Sim pois há um jogo à parte do jogo. Ficou ansioso antes do jogo e esta é uma forma de me libertar e libertar-me dos pensamentos que as coisas não vão correr bem. Assim tento passar esse sentimento para os outros.
O que é que dizes?
São coisas que me saem no momento tipo ‘és tão bom e não consegues meter ali a bola a treinar tanto’… sou um pouco pica-miolos e espalho para todos.
E até o que te dizem?
Há dias em que estou mais chateado quando as coisas não correm bem mas quando correm podem falar à vontade e isso torna-me mais forte e até fico a sorrir.
Costumavas meter-te em sarilhos?
Não, sempre fui tranquilo e envergonhado, pelo menos foi o que os meus pais disseram. Houve um filho mais problemático e não fui eu.
Quais foram os teus momentos mais felizes?
Ia a pé até ao campo a chutar garrafas e a cantar e depois sair da escola levar os meus colegas a casa e jogar à bola.
Sempre acreditaste no teu sucesso?
Houve um momento em que temi que não ia chegar a um clube como o Sporting. Ia fazer uma boa carreira em equipas de 1.ª Liga mas nunca pensei ser campeão ou chegar à Seleção Nacional. Tive as pessoas certas do meu lado que me aconselharam da melhor maneira e tomei as melhores decisões.
O que aprendeste com a tua mãe?
A ser trabalhador, às vezes fui mais frio e não tenho essa facilidade em dar um abraço. Desde os 12 anos estou fora de casa e não tenho essas coisas…
Foi com a tua mãe e o teu padrasto que aprendeste o valor do trabalho?
Sim. A minha mãe trabalhou demasiado e em conjunto com o meu padrasto foram 4 filhos e sempre tiveram de trabalhar muito para nos darem as melhores condições. A minha mãe foi uma escrava e espero que agora possa desfrutar um bocado da vida. Nunca me faltou nada… Eu ainda era jogador do Valencia e em Vidago perdi o telemóvel nos carrinhos de choque e contei à minha mãe a chorar… No dia seguinte apareceu o meu padrasto com um telemóvel novo e eu sabia que eles ganhavam o mínimo. Quando fui para o Sp. Braga queria ter um computador e a minha mãe conseguiu pagar a prestações. Nunca me faltou nada.
Algo que a tua mãe tinha dito que não esqueceste?
Quando tive o convite para ir treinar ao FC Porto e ela disse que não pois era muito novo mas prometeu que caso surgisse outra oportunidade não me ia cortar as pernas. Depois surgiu o Sp. Braga e deixou-me ir apesar de eu ainda só ter 12 anos.
Como sentes o amor deles?
Pela presença. Quando vou lá vejo que gostam de me abraçar e quando têm a oportunidade vêm ver jogos.
Que idade tinhas quando o teu pai faleceu?
O meu pai faleceu quando tinha 2 meses, não tenho memórias dele sequer. A minha mãe disse-me que foi uma bactéria. Sentiu-se mal foi para o hospital e aí morreu mas também nunca procurei à minha mãe. Só tentei viver o dia a dia para não perguntar porquê… faz parte da vida, um dia temos de ir, faz parte da vida. Sei que era bombeiro, uma pessoa incrível que sempre tentou ajudar os outros e dizem que a minha personalidade é a dele. Eu sei que muitas vezes está a ver-me… sei que é o meu pai mas também tive um padrasto que fez tudo por mim e foi um pai para mim.Como é que a tua mãe superou esse momento?
Como é que a tua mãe superou esse momento?
Eu sei que a minha mãe teve uma depressão. Sempre estive presente e tenho memórias dela a chorar e isso tornou-me mais forte no futebol para a ajudar a ter uma vida melhor.
E como é que ela reage ao teu sucesso?
Pote – Fico feliz quando a minha mãe me liga a dizer que viu os meus golos. Ainda hoje a chateio com a medicação para fazer tudo direitinho.
Como recebeste o teu padrasto?
Ele já lá estava quando tinha 1 ou 2 anos, a minha mãe precisava do apoio financeiro e emocional. A minha mãe tinha três filhos, recebeu mais um do meu padrasto e foi uma ajuda para ela. Trato-o por João e sempre foi uma pessoa importante pois era o único com a carta e fez um esforço enorme e depois era todo o apoio financeiro.
E recordas da viagem para Braga?
Da primeira não mas recordo outra em que não apareceu ninguém e estranhei. Depois o João disse-me que o meu avô tinha falecido e ninguém que me quis dizer (chorando) Espero que esteja orgulhoso e fico contente. Ainda não percebi porque não me disseram mas compreendo pois tinha e escola e jogos.
Como foi a vida em Braga?
Foi muito complicada. O Sp. Braga hoje tem umas condições incríveis mas no início passei muitas dificuldades. Eu andava sempre sozinho, precisava que me levassem a jantar…tinha de passar por um bairro ao complicado e lembro-me que uma vez estava a ver caderneta e apareceram dois rapazes que me queriam levar o cromo do Iniesta e depois perguntaram-me pelo telemóvel. Como não quis dar disseram que iam chamar mais uns rapazes para eu dar as coisas e foi aí que peguei no cromo do Iniesta e comecei a correr e nunca mais me apanharam. Vivia na casa da dona Tininha. Lembro-me que quando falava para casa dizia que estava tudo bem e não estava. Depois é que fui mais sincero e o clube ajudou-me mais, comecei a ter o apoio de mais pessoas.
Nunca pensaste desistir?
Sim, pensei. Eu sentia que não tinha o apoio suficiente.
A força mental é decisiva?
Pote – Sim, é. Eu adoro o futebol, não é só pelo dinheiro. Lembro-me de jogadores que tinham mais talento mas faltou-lhes a mentalidade de terem de ser alguém para ajudarem os seus. Eu tinha de ser alguém na vida, não havia o plano B, e foi isso que me fez diferente. No Valencia foi um ano complicado pois a FIFA não aceitava a minha inscrição uma vez que tinha 16 anos e só treinava e jogava amigáveis. Eu vivia na Academia e não podia sair de lá, só com email dos meus pais ou do empresário, e mesmo assim a Academia era a 30 minutos. Às vezes mandava eu o mail para poder sair.
Como foi a adaptação a diferentes países?
Olho para trás e não sei como consegui, creio que foi a viver o dia a dia e treinava como se fosse o último dia. No Valencia pensei que perdi um contrato no Sp. Braga que era certo e no Valencia não ganhava nada, ele ajudavam-me mas lá nunca consegui jogar lá. Eu só gastava dinheiro na alimentação, de ir a um restaurante, gasto mais nisso do que em coisas de luxo. Eu quero é deixar as pessoas orgulhosos e viver esses sentimentos.
É verdade que até és distraído no campo?
Pote – Sim, sempre fui. Às vezes até em campo passam-me a bola e eu estou distraído com que está a acontecer à minha volta. Já perdi a carteira na casa de banho do aeroporto…hoje pensei que a carteira estava na Academia e ainda não sei dela, se calhar vou passar parte das férias a mandar fazer novos cartões.
No campo por vezes esquecia-se de defender…
Por vezes pois gostava de ter a bola nos pés, marcar golo e fazer assistências mas agora estou muito focado em ajudar a equipa. Se o míster disser que tenho de defender durante os 90 minutos faço-o com o gosto pois adapto-me rápido às circunstâncias.
O Agostinho Oliveira dizia que pedia um cafezinho no momento de defender…
Nas camadas jovens gostava de ter a bola e quando a perdia não defendia. O professor Agostinho dizia que podia ficar de cadeirinha a pedir um café pois não corria muito.
Também te esqueces das datas com a namorada?
É por esquecimento as datas. Às vezes as pessoas fazem anos ficam tristes por eu não ter ligado mas é mesmo esquecimento.
Gostas que te chamem à atenção?
Sim, gosto que me apontem os erros, de um treinador que me chame ao banco e diga que tenho de me concentrar mais. Eu dizia ao Ruben para me chamar pois preciso dessa ajuda. Depois tenho a minha mulher em casa que me diz logo o que tenho de melhorar.
O que sentiste quando soubeste que ias ser pai?
Sem sei o que senti… cantei, celebrei, chorei. A Bruna estava sentir-se estranha e foi à farmácia pedir o teste e depois fez as análises. Foi a melhor surpresa de sempre pois tivemos duas perdas e nem, sei como vivi aquilo pois é muito difícil. Houve um momento num jogo da Taça e nem fiz estágio e depois marquei dois golo e saí ao intervalo para ir ter com ela ao hospital. Depois procurei os melhores profissionais com a ajuda do médico do clube e encontrámos as pessoas certas para este milagre. Agora estou um bocado receoso mas com a confiança que as coisas estão a correr bem e eu passo-lhe a mensagem que ele vai ser capaz de gerar vidas.
Que pai pensas que vais ser?
Um pai alegre, a Bruna vai ser mais mãe galinha, mas quero deixar que as crianças cresçam e se arranhem. Eu estou com a Bruna há quase 10 anos, 2 como melhores amigos… Foi uma história bonita de dois jovens que se apaixonaram. Ela ajudou-me a ser sentimental e a compreender que é a minha mulher da minha vida.
Quando casam?
No próximo ano, pois está grávida e já comprou o vestido, mas este ano vamos casar pelo civil e fazer um jantar com as pessoas mais próximas.
O pedido foi mais difícil do que o golo ao Arsenal?
Como seria a tua vida sem o futebol?
Seria algo ligado ao desporto mas não me imagino sem o futebol. O futebol ensinou-me a ganhar, a ajudar, a ter fair-play… Se calhar sou um pica-miolos mas nunca perdi o fair-play, pois se alguém estiver no chão ou a sentir-se mal sou o primeiro a ajudar.
Já tens uma certa autoridade no balneário?
Sinto que sim mas na minha cabeça sou o miúdo resmungão, que gosta de mandar as suas piadas. Agora estive 5 meses lesionado e após o 1.º treino houve um silêncio… O adjunto chegou-se ao pé de mim e disse-me ‘nunca pensei que fosse assim’ pois deixaram das brincadeiras. Eles veem-me como líder e gostei de ouvir isso. Quando estou mais nervoso digo o que penso, mas quando estou mais descontraído e oiço coisas que não concordo, nem ligo. A jogar gosto que me piquem.
Como é a sua ligação com o míster?
Sinto que tenho uma boa ligação com o míster mas são seis meses, agora tenho mais tempo. Com o Rúben tínhamos umas brincadeiras, somos parecidos. Ele deu-me o conselho de aproveitar todos os momentos para fazer o que quero.
Como foram os períodos mais difíceis na lesão?
Foi complicado, só pensamos em voltar para o campo, mas fisioterapeuta obrigava-me sempre a fazer mais um exercício, mudei os meus hábitos na alimentação. Foi um período que demorou muito tempo a passar. Passei muito tempo a jogar PlayStation para esquecer o que estava a fazer.
Tens algum ritual?
Temos uma Nossa Senhora de Fátima e peço para não me lesionar. Depois é entrar em campo com os três saltinhos. Por norma durmo bem, mas antes do jogo da Luz estava mais nervoso. Mas por norma durmo bem.
Preocupas-te com o visual quando entras em campo?
Nem quero saber. Às vezes nem tomo banho. Ainda agora o St. Juste me perguntou pela minha mochila e eu disse ‘não preciso pois venho aqui para jogar à bola’ .
Vês os comentários nas redes sociais?
Já vi mais, mas agora nem tanto, pois com o passar o tempo ligamos menos. Quando somos mais novos precisamos que as pessoas gostem de nós, ainda experimento um bocadinho. Se receber uma crítica que ajude a melhorar gosto. O jogador de futebol passa por muito e muitas vezes ninguém nos dá o valor. O nosso grupo no Sporting é muito forte, é uma família, e é isso que tento passar, é preciso jogar sempre para ganhar!
O que mais te orgulha?
O que mais me orgulho é de nunca ter desistido e de ter ultrapassado os maus momentos. O que interessa na vida é sermos felizes. Eu sei que as coisas nem sempre correm como queremos e temos de conseguir ultrapassar.
E o teu sonho?
Ser pai que está quase a acontecer e ter conseguido ajudar a minha a ter a sua casa. Já sei o sexo do bebé, mas a Bruna ainda não está preparada para dizer. Espero não desmaiar no parto e vai ser um momento que tenciono viver ao máximo.
Que diria hoje ao Pote dos 12 anos?
Que vai ser um excelente jogador mas antes ser uma excelente pessoa e um excelente pai. Estou a sentir-me a pessoa mais realizada do Mundo