
O histórico do Bloco de Esquerda Fernando Rosas considerou que houve “erros graves” por parte da direção do Bloco de Esquerda (direção esta a que a atual coordenadora, Mariana Mortágua, não se vai recandidatar), mas apontou que o ataque que lhe tem vindo a ser feito tem a ver também com “ser mulher, jovem, de Esquerda”.
Numa entrevista ao Público e à Rádio Renascença publicada esta quinta-feira, Fernando Rosas, que foi uma das apostas para as Legislativas – não conseguindo ser eleito -, considerou que a decisão de Mortágua foi tomada sem o “empurrão” de ninguém e que foi “justificada”.
“O Bloco de Esquerda sofreu, pelo menos, duas derrotas eleitorais muito significativas. A resposta política do Bloco não correspondeu, como os resultados mostram, ao que poderia ser uma resistência ou um contrapeso à ofensiva da extrema-direita. Falhou nesse aspecto, não há dúvida”, justificou.
Reconhecendo que o partido está “numa situação difícil”, o historiador afirmou que o “terreno social e político” para um partido como o BE continuará a existir enquanto houver algumas das questões com que os portugueses se deparam diariamente: o Serviço Nacional de Saúde com uma “ofensiva privatizadora” ou as leis laborais estiveram “sob ataque”.
Quanto à futura direção, que será escolhida em novembro, Fernando Rosas aponta que é a esta que cabe a concentração numa solução para estes problemas – dado que a não resolução destes alimentam “o descontentamento que sustenta a demagogia populista e reacionária da extrema-direita”.
“Qual é o programa do Chega para a habitação? Alguém sabe? Trata-se apenas da exploração dos instintos primitivos das massas — xenofobia, racismo, patriarcalismo reacionário. Na decisão de Mariana Mortágua de não se recandidatar pesou também este verdadeiro assassinato de carácter levado a cabo por sectores da direita e da extrema-direita. Nunca vi ataque semelhante”, defendeu, sendo questionado se em causa estava a ainda líder bloquista ser mulher, e respondendo: “Por ser mulher, jovem, de Esquerda, por ter opções próprias de vida e querer afirmar-se com o seu estilo e ênfase pessoais como dirigente e deputada. Há uma parte da sociedade portuguesa que não perdoa isso. Se fosse um homem não teria sido alvo de semelhante ataque. Não estou com isto a dizer que não houve erros graves da parte da direção do Bloco”.
Quanto aos erros graves cometidos, Fernando rosas voltou a ‘pisar’ o terreno social já abordado antes: “As soluções encontradas para responder à ofensiva da Direita não resultaram. É preciso saber aproveitar o terreno social objetivo: ter a ousadia de ir contra a corrente, não temer estar em minoria, defender convicções com pedagogia e empatia, e concentrar-se nos problemas reais das pessoas. [Mariana Mortágua] Tinha o seu estilo de direção. As circunstâncias em que exerceu o cargo, bem como os ataques de que foi alvo, dificultaram-lhe a tarefa”.
Fernando Rosas falou ainda das presidenciais, que, anunciou esta quinta-feira o Presidente da República, se realizam a 18 de janeiro.
O histórico bloquista não acredita que António José Seguro, candidato apoiado pelo Partido Socialista (PS), consiga unificar a Esquerda. Defendendo que a atual direção do PS se decidiu “encostar à Direita” e considerando que a candidatura de Seguro “não é coisa nenhum” no espetro político, Fernando Rosas lamentou que António Sampaio da Nóvoa não tenha avançado – e que a sua decisão tenha sido revelada tardiamente, dado que deixou a Esquerda sem “margem de manobra”.
Considerando que a inexistência de um candidato á Esquerda unificador “não é bom”, dado que “divide a Esquerda”, Fernando Rosas questionou durante a entrevista: “Imagine que vamos ter uma segunda volta nas presidenciais entre o almirante e o bufão da extrema-direita. Qual é a escolha da esquerda, nesse caso?”
Quanto a uma possível segunda volta com António José Seguro e Henrique Gouveia e Melo, o historiador não quis desvendar muito a sua opinião, disse que isso seria “uma coisa muito hipotética”. E acrescentou: “A Esquerda vai dividida à campanha, mas a Direita também. É por isso que esta campanha eleitoral é um bocadinho uma incógnita. Vamos ver o que é que as sondagens dizem, mas vejo com dificuldade que um candidato de Esquerda chegue à segunda volta, por causa das tendências que se têm manifestado eleitoralmente”.
Ainda quanto a Gouveia e Melo, Fernando Rosas considerou que o candidato “tem dias”. “Começou com uma campanha a namorar o Chega e acaba com uma campanha a piscar o olho à esquerda”, explicou.
Após uma ‘indecisão’ sobre duas datas, Marcelo Rebelo de Sousa fechou a data para as Presidenciais esta manhã: 18 de janeiro. Já daqui a cerca de duas semanas começam os debates








