Sporting

Um leão a fazer burrices, eis Gyokeres

Viktor Gyokeres come à mesa dos melhores avançados da história do futebol português quando constatamos o rendimento que exibiu ao longo das duas temporadas em que representou — tempo verbal não é inocente — o Sporting.

Por aquilo que mostrou no caminho que conduziu ao bicampeonato conquistado pelos verdes e brancos, opinião baseada nos números desse par de épocas, pode ser comparado a Fernando Gomes, Rui Jordão, Manuel Fernandes, Tamagnini Nené, Rui Águas, Mário Jardel, Radamel Falcao, Óscar Cardozo, Kostas Mitroglou, Bas Dost, Jonas, Jackson Martínez ou outros que me possam ter escapado e que o leitor fará o favor de acrescentar à lista.

Em 102 encontros, contas feitas a todas as competições, o goleador da máscara contabiliza 97 golos e 27 assistências. Pontos fracos? Só se for o jogo aéreo.

«O problema não é a minha cabeça. São os nossos alas, os cruzamentos deles são péssimos!», disse, numa entrevista ao L’Équipe e à France Football agora tornada pública.

Em campo, mesmo que brinque ao remeter as culpas para os companheiros, não consegue rentabilizar a arte do cabeceamento que imortalizou tantos pontas de lança. Fora dos relvados, a avaliar pela forma como está a gerir o desejo de sair de Alvalade, Gyokeres revela igualmente pouca… cabeça.

Com contrato até 2028 e cláusula de rescisão de €100 milhões, enquadramento que lhe deixa pouca margem de manobra para esticar a corda sem que esta parta do lado dele e lhe faça mossa, o internacional sueco faltou, ontem, à apresentação ao trabalho inicialmente prevista para a última segunda-feira.

Uma atitude evidente de escassez de profissionalismo — que dirá o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol sobre isto? A bola está do lado de Joaquim Evangelista… — e pouca cabeça, lá está, porque, mesmo que considere ter razão por promessas feitas e não cumpridas, a falta de comparência em Alcochete será mais um duro obstáculo a ultrapassar para chegar a Londres com destino ao Arsenal e à Premier League.

Em suspenso fica, pois, o futuro. Se Frederico Varandas continua a acreditar que o fim do mercado de transferências, a 2 de setembro, curará todos os males, se está com fé de que Gyokeres voltará a vestir a camisola do Sporting se ninguém descodificar a equação 70+10 que o presidente quer ver resolvida, louvo-lhe o otimismo.

«Estamos tranquilos. Tudo se resolve com o fecho de mercado, uma multa pesada e um pedido de desculpas ao grupo», assim reagiu o líder leonino, ontem, sem ameaças de processo disciplinar, por exemplo, declarações que não fecham a porta a entendimentos futuros.

No campo minado em que se movimentam tanto Gyokeres como Sporting e Arsenal, onde cada passo — ou ausência dele — desencadeia uma explosão, que pensarão os adeptos? Uns sentir-se-ão traídos, outros, mais realistas, percebem que os negócios à volta do futebol atual são um jogo de tabuleiro em que a gratidão raramente sobrevive às jogadas de milhões.

Moral da história, para já, à medida que se quebra o encanto de uma relação que parecia à prova de bala: o leão Gyokeres está a ser capaz de fazer muitas burrices.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo