Nacional

O pai do Dinis, do Duarte e da Mafalda

Sou vizinho de um casal que, há uns anos, perdeu filho, nora e dois netos num sopro infernal. Quando me cruzo na rua com eles, muitas vezes enquanto caminho de mão dada às minhas filhas, a caminho da escola, não consigo deixar de pensar que são duas pessoas em modo de sobrevivência. Por mais fortes que sejam aqueles pais/sogros/avós, a vida acabou, de alguma forma, no dia em que tamanha tragédia lhes levou a alma.

Dentro da minha fé, já de si abalável, fica difícil compreender como alguém pode merece tal destino. Nenhum propósito maior pode justificar sofrimento como aquele que acompanhará também o resto das vidas da família de Diogo Jota e André Silva. Do Sr. Joaquim, da D. Isabel, da Rute, da Paula…

(Sobre)viverão agora pelo Dinis, pelo Duarte e pela Mafalda, a quem o destino nem sequer deu tempo para guardarem memória sólidas do pai, mas que certamente vão crescer a ouvir falar de como o Diogo era um rapaz especial. Um exemplo de trabalho, de humildade, de respeito.

Nada caiu do céu para o Diogo José Teixeira da Silva. Só mesmo aquela bola que foi parar junto às piscinas de Gondomar, e que o levou a aceitar o desafio de começar a jogar à bola no clube local. Depois, mesmo sem passar pela formação dos principais emblemas nacionais — que já na sua altura secavam tudo à volta —, Jota conseguiu chegar ao topo do futebol mundial. Do Gondomar para o Paços de Ferreira, e depois para o Atlético Madrid, para o FC Porto, para o Wolverhampton, para o Liverpool. Para a Seleção, claro. Deixa-nos como campeão da Premier League e da Liga da Nações, mas acima de tudo como campeão da vida.

Diogo Jota conquistou o mundo do futebol sem pisar ninguém, muito menos em bicos dos pés. Não há relato de um gesto infeliz, de uma palavra amarga, de qualquer postura reprovável. Nem sequer dentro do campo, muito menos fora dele. Nem com colegas, nem com treinadores, nem com jornalistas, nem com adeptos. Antes pelo contrário: é consensual a imagem de alguém humilde, alegre, respeitador. Um homem de família, um jogador de equipa.

Diogo nunca esteve preocupado com a fama, e talvez por isso tenha conquistado o reconhecimento mais nobre para quem anda no desporto: a admiração dos irmãos que foi fazendo ao longo da carreira, e que explicarão ao Dinis, ao Duarte e à Mafalda que o pai era uma pessoa especial.

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